sexta-feira, 17 de abril de 2009

O Tarô e os Elementos

Os antigos conceberam o fogo, a água e o ar como elementos puros.
Eles foram relacionados com as três qualidades de ser, conhecimento e bem-aventurança. Também se correspondem com o que os hindus chamavam as três gunas - sattvas, rajas e tamas -, que podem traduzir-se aproximadamente por calma, atividade e obscuridade inerte. Os alquimistas tinham três princípios semelhantes de energia dos quais se compõem todos os fenômenos existentes: enxofre, mercúrio e sal.
Esse enxofre é a atividade, energia, desejo; o mercúrio é fluidez, inteligência, o poder de transmissão; o sal é o veículo dessas duas formas de energia, mas possui em si mesmo qualidades que se relacionam a elas.
O leitor deve ter bem presentes, todas as classificações tripartidas. Em alguns casos, um grupo será mais útil que outro. No momento, concentraremo-nos na série fogo, água, ar.
Esses elementos estão representados no alfabeto hebraico pelas letras shin, mem e aleph. Os cabalistas chamam-nas as três letras mães. Neste grupo em particular, os três elementos envolvidos são formas completamente espirituais de energia pura; podem manifestar somente com experiência sensorial ao incidir nos sentidos, ao cristalizar em um quarto elemento ao que chamam “Terra”, representada pela última letra do alfabeto, o TAU. Esta é, pois, outra interpretação inteiramente diferente da idéia de filha, que aqui se considera como um apêndice do triângulo. É o número Dez.
Devemos ter em mente, simultaneamente, estas duas interpretações. Os cabalistas, depois de
inventarem o Tarot, procederam a fazer ilustrações dessas idéias abstratas do pai, a mãe, o filho e a filha, e as chamaram de Cavaleiro, Rainha, Príncipe e Princesa. Às vezes, aos Príncipes e Princesas se chamam de “Imperador” e “Imperatriz”.
A razão dessa confusão está relacionada com a doutrina do Louco do Tarot, o legendário Errante que ganha a filha do Rei, lenda que está conectada com o plano antigo e extraordinariamente sábio de eleger o sucessor do rei baseado na habilidade de que para ganhar a filha do rei é necessário vencer a todos os competidores. (A Rama Dourada de Frazer é uma autoridade no tema).
Para o nosso baralho (Tarot de Crowley), acreditou-se ser mais conveniente adotar os termos “Cavaleiro”, “Rainha”, “Príncipe” e “Princesa” para representar a série pai, mãe, filho, filha, pois a doutrina implicada, que é altamente complexa e difícil, assim o requer. O pai é o “Cavaleiro” porque aparece representado a cavalo. Pode ser esclarece dor descobrir os dois principais sistemas, o hebraico e o pagão, como se fossem (e sempre o foram) sistemas concretos e diferentes.
O sistema hebraico é direto e irreversivel; postula ao pai e a mãe de cuja união nasce o filho e a filha. E aqui termina. Somente após especulação filosófica posterior é que se encarregou de derivar a díade Pai-Mãe da unidade manifesta, e quem ainda mais tarde buscou a fonte dessa unidade no Nada. Este é um esquema concreto limitado e tosco, com seu princípio sem causa e seu estéril final.
O sistema pagão é circular, autogerado, auto-alimentado, autorenovado. É uma roda em cuja borda estão pai-mãe-filho-filha; eles se movem ao redor do eixo imóvel ou zero; unem-se à vontade; transformam-se um no outro; para a órbita não há princípio nem fim; nenhum é superior ou inferior. A equação (Zero=Muitos=Dois=Um=Todos=Zero) está implícita em todas as modalidades de existência do sistema.
Ainda que isso seja tão complexo, conseguiu-se ao menos um resultado muito desejável: explicar por que tem o Tarot quatro cartas com figura, não três. Isso explica porque há quatro naipes. Os quatro naipes chamam-se: “Paus”, atribuído ao fogo; “Copas”, atribuído à água; “Espadas”, atribuído ao ar; “Ouros” (“Moedas” ou “Pantáculos”), à terra. O leitor advertirá esta interação e reciprocidade ao número quatro. É também importante que advirta-se que até mesmo na ordenação décupla, toma parte o número quatro. A Árvore da Vida pode ser dividida em quatro naipes: O número 1 corresponde ao fogo; os números 2 e 3, à água; os números 4 a 9, ao ar; e o número 10, à terra. Essa divisão corresponde à análise do Homem. O número 1 é sua essência espiritual, desprovida de qualidade ou quantidade; os números 2 e 3 representam seus poderes criativos e transmissores, sua virilidade e sua inteligência; os números 4 a 9 descrevem suas qualidades mentais e morais concentradas em sua personalidade humana; o número 6 é, por assim dizer, uma elaboração concreta do número 1; e o número 10 corresponde à terra, que é o veículo físico dos nove números prévios. Os nomes destas partes da alma são: 1 Jechidah; 2 e 3 Chiah e Neschamah; 4 a 9 Ruach; 10 Nephesch..
Estes quatro planos correspondem também aos denominados “Quatro Mundos”, para entender a natureza das quais devemos nos remeter, com todas as devidas reservas, ao sistema platônico. O número 1 é Atziluth, o Mundo Arquetípico; mas o número 2, como aspecto dinâmico do número 1, é a Atribuição Prática. O número 3 é Briah, o Mundo Criativo em que toma forma a vontade do pai através da concepção da mãe, do mesmo modo que o espermatozóide, ao fecundar o óvulo, faz possível a produção de uma imagem de seus pais. Os números 4 a 9 incluem a Yetzirah, o Mundo Foraaivo, no qual se produz uma imagem intelectual, uma forma apreciável da idéia; e esta imagem mental se faz real e tangível no número 10, Assiah, o Mundo Material.
Por meio de todas essas atribuições confusas (e às vezes aparentemente contraditórias), com uma paciência inesgotável e uma energia pertinaz, se chega finalmente a uma compreensão lúcida, a uma compreensão que é infinitamente mais reveladora do que o que poderia ser qualquer interpretação intelectual.
Este é um exercício básico no caminho da iniciação. No caso de que fosse um racionalista superficial, seria muito fácil encontrar defeitos em todas essas atribuições e hipóteses semi-filosóficas; mas também é muito fácil demonstrar matematicamente que é impossivel golpear uma bola de golf.


(...) Convém examinar agora as relações dos sephiroth entre si. Adverte-se que para completar a estrutura da Árvore da Vida empregam-se 22 linhas. (...) Assinalaremos que, em certos aspectos, a forma como estão desenhados os sephiroth parece arbitrária. Curiosamente, há um triângulo equilátero, composto pelos números 1,4 e 5, que poderíamos considerar uma base lógica para as operações da filosofia. Sem dúvida, não há linhas que unam o 1 ao 4, o 1 com o 5. Isto não é casual. Em nenhum lugar da figura aparece um triângulo equilátero com o vértice para cima, se bem que há três triângulos equiláteros com o vértice para baixo. Isto se deve à fórmula original “Pai, Mãe, Filho”, que se repete três vezes em escala descendente de simplicidade e espiritualidade. O número 1 está por cima desses triângulos, pois constitui uma integração do Zero e abaixo do tríplice véu do negativo.
Pois bem, os sephiroth, que são emanações do número 1, como já se disse, são coisas em si mesmas, em um sentido quase kantiano. As linhas que os une são forças da natureza de um tipo muito menos completo; são menos abstratas (...).